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21 outubro, 2012

Cilada



Dom José Alberto Moura*

É muito comum práticas de armar ciladas para derrubar a quem tem ideias, ideais e valores conflitantes com os de determinadas pessoas. Na política isso parece ser mais usual ainda. Destruir o outro é demonstração de pequeneza de caráter e meio ignóbil de querer convencer os eleitores a não votar nos outros. A melhor maneira, porém, de fazer a propaganda política e outras é mostrar os próprios valores, os bons feitos e os programas de ação para o melhor serviço de esclarecimento às pessoas.
 
A verdade e o bem muitas vezes incomodam a quem não os tem. A Palavra de Deus reconhece-o claramente: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda: ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós as transgressões da lei” (Sabedoria 2, 12). Por isso, o maldoso prova e até persegue e faz condenar injustamente o inocente. Foi o que fizeram com Jesus. Mas a vitória não é de quem consegue condenar a quem não o merece, apesar da justiça humana muitas vezes ser falha. No encalço do Mestre é vitorioso quem o imita na pertinácia da realização da missão. A ética assumida e vivida fala mais alto do que a mentira e a falta de respeito em relação ao bem do outro e da comunidade. Precisamos formar pessoas, desde o berço, para a altivez de caráter e a prática da promoção da vida e defesa da dignidade humana, da verdade e da justiça. A religiosidade baseada no amor de Deus faz a pessoa dar frutos de promoção da vida em plenitude, sem se deixar levar ao desânimo por encontrar a correnteza ao contrário.

O apóstolo Tiago lembra a necessidade de vivermos conforme a sabedoria vinda de Deus, que leva a pessoa a superar a ambição, a cobiça, a inveja e todo tipo de desordem (Cf. Tiago 3, 16.17). As consequências benéficas advêm na prática da justiça e na promoção da paz. De fato, quem tem a consciência reta, com os valores maiores indicados por Deus, dá base de estruturação do tecido social com benefício para todos. Felizmente temos pessoas assim formadas e conduzidas. A sociedade não é destruída como um todo devido ao ser e agir de tais pessoas. Mas precisamos multiplicá-las para a garantia da convivência mais harmoniosa. Fundamental para isso é a família bem construída. A correnteza em contrário é promovida por grupos materialistas de interesse consumista, usando de parte da mídia para veicular enganosamente o hedonismo como fonte de felicidade, mas, fugaz. Sem valores permanentes e ideal elevado de vida não se constrói a base para o progresso plenamente realizador do ser humano.

Jesus enfrenta todo tipo de cilada, mas não abre mão de sua missão, enfrentando os opositores, mesmo com o sacrifício total de si. Mas esmagou o projeto dos opositores com o contrário da agressão. Venceu pelo amor. Sua ressurreição provou que seu método divino é o remédio para todo tipo de oposição aos valores de seu Reino. Quem vence não é a força física ou a proeminência social e sim quem dá de si pelo bem do outro, até dos inimigos: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Marcos 9, 37). Quem se opõe a isso sai perdendo! A lógica de Jesus é a do amor, que leva a pessoa a promover o bem do semelhante.


* Dom José Alberto Moura
É arcebispo metropolitano de Montes Claros. É presidente do Regional Leste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o quadriênio 2011-2015. Foi presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Diálogo Ecumênico e Interreligioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) de maio de 2007 a maio de 2011. Nasceu em Ituiutaba, Minas Gerais, em 23 de outubro de 1943. Pertence à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo (CSS). Foi nomeado arcebispo metropolitano de MOC em 07 de fevereiro de 2007, tomando posse nesta Igreja particular em Missa Solene no dia 14 de abril do mesmo ano. Foi ordenado sacerdote estigmatino em 09 de janeiro de 1971.
Publicado originalmente em www.arquimoc.org.br, desde 20/09/2012

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