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10 agosto, 2010

Sobre a escola de jornalismo

* Demétrio de Azeredo Soster

Se o então ministro Gilmar Mendes, quando da elaboração do texto que viria a
embasar seu voto pela não obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para o exercício da profissão, tivesse lido o livro
A Escola de Jornalismo: a Opinião Pública, de Joseph Pulitzer (Insular, 2009), talvez não apequenasse, de forma tão vexatória, o Supremo Tribunal Federal (STF), como o fez. É uma hipótese.

O fato é que, ao demonstrar ignorância sobre o que significa a formação superior em Jornalismo, tanto para quem emprega como para quem é empregado, legitimada do ponto de vista documental pelo diploma – a exemplo do que ocorre com profissões como a Medicina e o Direito, para ficarmos em duas – Gilmar Mendes agiu de encontro ao momento evolutivo da sociedade.

Observe, caro leitor, cara leitora, que eu disse “de” encontro, ao invés de “ao” encontro. Explico: face à compressão espaço-temporal em que vivemos, decorrência principalmente do desenvolvimento tecnológico da sociedade, e suas complexificações, as empresas necessitam, cada vez mais, profissionais qualificados ao exercício da profissão para sobreviverem à concorrência e se manterem saudáveis.

Equivale a dizer que, diferentemente do que ocorria há duas décadas, há cada vez menos tempo para treinar funcionários, basicamente porque a multiplicação de jornais, revistas, rádios, televisões e sites de natureza jornalística exige dos que trabalham com informação resultados tão rápidos quanto satisfatórios, sem tempo para aprendizado.

É onde se potencializa o papel da universidade, particularmente em nível de graduação, na formação dos futuros jornalistas. A ela cabe instrumentalizar os aprendizes, por meio de ensino, pesquisa e extensão, de tal forma que, quando formados, não apenas sejam capazes e competitivos como estabeleçam, por meio de seu ofício, diferença para melhor no mercado de trabalho.

Diferença esta que se personifica, claro, no desempenho adequado das tarefas para que foram contratados, mas, sobretudo, na compreensão do que sua presença no mercado de trabalho significa para a sociedade como um todo, haja vista que estamos falando de um ofício que, para além do caráter de negócio, possui obrigações e responsabilidades de natureza pública.



Joseph Pulitzer se autointitulava um
defensor do lado das pessoas e
um porta-voz da democracia 
E, para isso, ao lado do conhecimento prático, é preciso também instrumentalização de natureza ética, filosófica e sociológica; sobretudo, jornalística, com o que retornamos ao livro de Pulitzer.

Trata-se, a obra, de uma vigorosa defesa da escola de Jornalismo, escrita ainda no século 19 como uma resposta àqueles que, como hoje, insistem em não ver sentido na formação superior para o (bom) desempenho da profissão, e que não sabem, portanto, do que estão falando.
Uma obra que deve ser lida antes de nos posicionarmos a respeito do assunto, sob o risco de nossos argumentos serem inconsistentes, ou mesmo risíveis, como comparar o trabalho de um jornalista ao de um cozinheiro, com todo respeito que o segundo merece para além da hora da fome.

* Jornalista/Subcoordenador do Curso de Comunicação da Unisc