Considerado
como o evento científico mais importante acontecido em Bocaiuva, Norte de Minas,
o Eclipse Total do Sol completou 65 anos do seu acontecimento neste domingo, 20 de maio.
O B-17, da Força Aérea Americana, fotografou o fenômeno |
Até hoje é
controverso o motivo da escolha da cidade para a observação do fenômeno que ficou conhecido como o Eclipse de Bocaiuva e que deslocou para o pequeno vilarejo no
sertão brasileiro equipamentos da mais alta tecnologia, à epoca, e aviões de grande porte, como o B-17, conhecido como a Fortaleza Voadora.
Participaram
efetivamente do estudo do fenômeno, cientistas e militares, entre
norte-americanos, russos e ingleses, além da cobertura da mídia de alcance
mundial, como a Rede NBC e a National Geographic Society, e também da imprensa
nacional, como a revista O Cruzeiro.
Seis décadas
e meia depois, pouco resta dos vestígios do acampamento onde foram instalados
os telescópios e a base de operações na região da Extrema, na zona rural distante
cerca de 15 km de Bocaiuva.
No local,
podem ser vistos apenas vestígios das bases dos enormes telescópios e o marco
do Eclipse, este, protegido por lei. Perto dali, a ruína de uma escola
municipal que depois de construída entre o final dos anos 1990 e início dos
anos 2000, não chegou, sequer, a entrar em funcionamento.
Marco do Eclipse de 1947 resiste ao tempo e ao abandono. (Foto: Jair Bastos) |
O Clube
de Astronomia Amadora de Bocaiuva, recém-fundado, tem planejado, silenciosa,
mas efetivamente, a implementação de projetos para o resgate deste importante
acontecimento para o município e aproveitar esta herança de patrimônio
histórico-científico para o desenvolvimento local.
Entre os
projetos, está a aquisição de um telescópio para incentivar a prática da Astronomia
entre crianças e adolescentes, fomentando uma nova geração de admiradores da Ciência.
Para o
jornalista Jair Bastos, um dos fundadores do Clube de Astronomia, não se pode
deixar de lado algo tão relevante para a história mundial. “Muitos aspectos
estão envolvidos nesse fenômeno que é pouco conhecido pela nossa população”,
ressalta.
“Precisamos
dar valor ao passado, agir no presente e construir para um futuro melhor”, diz,
referindo-se à necessidade de recuperar o patrimônio deteriorado para que não
se perca ainda mais do que restou do Eclipse de 1947.
Histórica astronômica*
Terra natal de Herbert de Souza - o
Betinho, da Ação da Cidadania contra a fome e a miséria -, de José Maria Alkmim
- amigo de Juscelino Kubitscheck, ex-ministro da Fazenda, ex-vice-presidente da
República -; de Patrus Ananias – ex-ministro do Desenvolvimento Social -, e de
tantos outros filhos ilustres, o município de Bocaiuva foi cenário de um
acontecimento que o colocou em evidência em todo mundo. O ano foi 1947.
Bocaiúva era o local
escolhido.
Cientistas e militares de vários países aportaram na
cidade para observar o primeiro eclipse solar previsto cientificamente. Fizeram
um verdadeiro acampamento de guerra na região conhecida como Extrema, na zona
rural, há cerca de 15 km do centro da cidade. Telescópios, balões
meteorológicos e todos os equipamentos de ponta estavam à disposição da equipe
de cientistas.
Além dos veículos de transporte terrestre, a Fortaleza Voadora
B-17"pousava e decolava da pista construída especialmente para receber as
aeronaves. O fato foi observado por cientistas e pela imprensa mundial.
Segundo
reportagem da Folha de São
Paulo, de 20 de maio de 1947, após o eclipse as primeiras declarações dos
cientistas americanos e brasileiros que observam a marcha do eclipse foram as
seguintes: “Perfeito o trabalho. Raramente se poderá conseguir um campo de
observação com as condições atmosféricas tão propícias como as que predominaram
esta manhã em Bocaiuva”.
De acordo com Centro de Estudos Astronômicos de
Minas Gerais (Ceamig), “aquele eclipse era muito importante para a
astronomia internacional, pois, após a guerra, era a primeira oportunidade de
se observar um eclipse de grande duração, e que seria visível em regiões com
boas qualidades logísticas”.
Ainda de acordo com a entidade, George Van
Biesbroeck, do Observatório de Yerkes, EUA, planejava observar o efeito
Einstein, como forma de tentar comprovar a Teoria da Relatividade.
Dessa forma,
Bocaiuva é conhecida no cenário astronômico como a Capital Espacial.
* Adaptação do texto publicado originalmente no post Meteorito Bocaiuva apresentado em evento na UFMG.
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