*Marcelo Eduardo Freitas
É público e notório, na democracia brasileira, o discurso eloquente de corruptos contumazes que, ao se verem surpreendidos com a “boca na botija”, reverberam a cantilena de sempre: “É perseguição política”!
Para fazerem ecoar o bramido estridente, alguns se valem de potentes meios de comunicação (jornais, revistas ou Tv’s), não raras vezes adquiridos às custas de gordas propinas ou sonegação milionária, camuflada de filantropia, a fim de atribuir veracidade ao conto do vigário. Melhor seria dizer, ao grito do vigarista!
Em tempos de imprensa livre, a manifestação do pensamento representa um dos fundamentos em que se apoia a própria noção de Estado democrático de direito. Por isso mesmo, não pode ser restringida pelo exercício ilegítimo da censura estatal. Não sem razão, a Carta de Princípios, também denominada Declaração de Chapultepec, assinada no México em 1994, durante a Conferência Hemisférica sobre Liberdade de Expressão, foi textual ao estabelecer que "o pensamento há de ser livre, permanentemente livre, essencialmente livre”.
Essa liberdade, entretanto, nos custa caro. Mormente a olhos e ouvidos. Por isso mesmo, ouvimos e observamos, atônitos, a desfaçatez de homens e mulheres que, mesmo chafurdados em lamaçal, não se cansam de atirar lamas em pessoas e instituições que nutrem uma trajetória irreprochável e de eloquentes serviços prestados à nação brasileira. Valem-se do mesmo subterfúgio utilizado pela propaganda nazista. Basta rememorar as palavras de Adolf Hitler, expressadas em 1926, em seu livro Mein Kampf: "A propaganda política busca imbuir o povo, como um todo, com uma doutrina... A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma ideia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião".
A resposta aos facínoras há de vir do silêncio dos ofendidos, a fim de evitar eventual e previsível arguição de suspeição, sem olvidar, entretanto, do clamor e apoio que deve advir das ruas. A sociedade, em situações que tais, não pode manter-se inerte. Todos aqueles que não trocaram consciências por favores ou empregos públicos, distribuídos em forma de rodízio pelo governante de plantão, devem adotar postura ativa.
Maquiavel se perguntava se, para um príncipe, era melhor ser amado ou ser temido. Como as duas “qualidades” eram mutuamente excludentes, era preciso escolher apenas uma delas. Mas qual seria a melhor? O pensador renascentista concluiu que ser temido era muito mais seguro do que ser amado. Esse pensamento foi externado em “O Príncipe”, entre os anos de 1505 e 1515, mas ainda existem aqueles “ignorantes inúteis” que acreditam piamente que instituições irão recuar com escândalos histéricos. Não irão! Venham de onde vier!
Quando era criança, em tempos de extrema privação e sofrimento oriundos da vida na zona rural, era muito comum presenciar a sangria de porcos que, antes do abate covarde, berravam assustadoramente. O sertanejo, rude como de costume, empurrava a faca bem abaixo da pata dianteira esquerda e, com certo orgulho, bradava: “O bom cabrito é aquele que não berra, mas o porco, mesmos aos berros, morre!”
Os tempos mudaram! As instituições funcionam! Isso tem incomodado muita gente que se julgava intocável! Não são! Karl Marx dizia que “sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites”. Com maior razão deve-se investigar o capitalista que, promissor no ramo dos negócios, se embrenha pelos caminhos da política partidária. Esse, não há dúvidas, vai usar do espaço público para atender seus interesses privados, pois como ensina a Ministra Carmen Lúcia, “o dinheiro é para o crime o que o sangue é para a veia. Se não circular com volume e sem obstáculos não temos esquemas criminosos”. O poder exclui as barreiras que o dinheiro não conseguiu derrubar!
Immanuel Kant, filósofo prussiano, considerado o pai da filosofia moderna, dizia que “a preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha, continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam porque é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor... Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis”.
O bom ladrão salvou-se na cruz. Mas não há salvação possível para homens e mulheres que, podendo, se acovardam diante do mal. É tempo de irresignação! Como diria Norman Vincent, “os covardes nunca tentam, os fracassados nunca terminam, os vencedores nunca desistem”. Eu não desisto nunca! E você?
(*) Delegado de Polícia Federal e Professor da Academia Nacional de Polícia
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