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24 junho, 2009

Jornalistas e Galileu: a luta contra mediocridade

JAIR BASTOS (jornalistajairbastos@gmail.com)

No séc. XVII, o italiano Galileu Galilei foi condenado por expor idéias que estavam além do seu tempo. Estava (e até hoje está!) certo sobre os seus pensamentos a respeito das posições da Terra e do Sol no sistema espacial. Do outro lado, os acusadores dele, impregnados de arrogância e de olhos vendados para a verdade, não se dispuseram a entender a nova realidade que era apresentada naquele momento. Hoje, no alvorecer do séc. XXI, vivendo num clima de desenvolvimento exponencial de todas as capacidades, diminuindo todas as distâncias para dentro e para fora do ser humano, e com uma sensibilidade aumentada para as necessidades latentes da Humanidade, ainda é possível perceber que muitos não querem enxergar uma nova realidade.

A decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a não exigência do diploma de graduação de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo para o desempenho da função de Jornalista é um dos maiores retrocessos já cometidos pela justiça brasileira, juntamente com a extinção total da Lei de Imprensa. Discutir a decisão não é ponto primordial aqui, mas expor a regressão que isso representa para a defesa dos direitos da sociedade deste país. Acredito que os constantes (des)acontecimentos envolvendo os três poderes – e sua divulgação pela mídia – tenham colocado o Jornalismo como único Poder que defenda, de fato, a população deste país contra os desmandos dos detentores do poder e do capital. A partir disso, tornou-se alvo fácil e preferencial. Talvez seja esta a justificativa.

Liberdade de expressão e pensamento também requer responsabilidade e conhecimento. Co-nhe-ci-men-to é diferente de opinião! Se não fosse assim, toda conversa de buteco seria notícia digna de ser divulgada nos meios de comunicação, na mídia. Vivemos numa sociedade midiática em que novas informações são lançadas de forma instantânea sem preocupação com limites geográficos. É a sociedade que tem uma cultura em mutação constante pela assimilação destas informações. Um tempo diferente dos ilustres Machado de Assis, Euclides da Cunha, Carlos Drumond de Andrade, entre outros vários que, mesmo sem habilitação em Jornalismo, foram os Jornalistas do seu tempo. Entretanto, eram suprasumos da época em que viveram. E os demais? Como lidariam com um mundo que construiu uma consciência coletiva mundial produzida por uma inteligência desenvolvida com base na tecnologia, como demonstra o filósofo francês Pierre Lévy?

É uníssono que mediocridade não precisa de diploma e que um profissional de qualidade não se forma somente nos bancos da universidade. Mas, não mais existe formação nas redações dos jornais e revistas, nos estúdios de rádio e TV, nas assessorias de imprensa – e em tantos locais onde o Jornalista é peça fundamental, indispensável e primordial -, como nos tempos daqueles Jornalistas citados pelos ministros como exemplos de profissionais não habilitados que se destacaram na imprensa. Qual seria o local de formação, então, para os novos Jornalistas senão os bancos da academia? Qual curso teria a capacidade para gerar o conhecimento necessário para entender uma sociedade midiática de maneira ética e responsável além do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo?

Galileu admitiu que divulgar suas ideias foi um erro. Porém, foi firme ao dizer que as ideias e ele mesmo estavam corretos. Foi um homem além do seu tempo e antecipou a chegada do futuro, propondo um novo pensar em relação ao mundo a sua volta. Nós, Jornalistas, percebemos o significado disso quanto somos comparados a trabalhadores braçais. Estes também tem seu valor para a construção da sociedade cada vez melhor e que lhes cobra, continuamente, uma formação. Porém, o nosso compromisso também é para que o respeito com os membros da sociedade seja algo tão evidente quanto a infeliz declaração do meritíssimo que desconhece a profundidade das palavras proferidas e das consequências dos atos dele para a sociedade brasileira.

Defensores da democracia que nasce do povo, com o povo e para o povo, comprometidos com a dignidade da pessoa humana, denunciadores da mazelas e promotores de soluções para uma Humanidade que viva com respeito e qualidade de vida, não seremos abatidos pela Inquisição extemporânea da qual fomos julgados.

“Destarte”, somente o diploma de Direito não garante, também, que o indivíduo seja um bom advogado, bom promotor ou bom magistrado! Afinal de contas, mediocridade não precisa de canudo.


* Jair Bastos é acadêmico do 7º período de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e trabalha há mais de 15 anos na profissão.

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